sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO



AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO
Num cantinho de uma sessão, sentado em um banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto-velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei por que motivo contei-as. Foram sete. Na incontida vontade de saber, aproximei-me e o interroguei: - Fala, meu preto-velho, diz ao teu filho porque externas assim tão visível dor? E ele suavemente respondeu: - Vês esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas. - A primeira, eu dei àqueles indiferentes que aqui vêm em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber. - A segunda, à esses eternos duvidosos que acreditam desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam. - A terceira, distribuí aos maus, àqueles que somente procuram a umbanda em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um semelhante. - A quarta, aos frios e calculistas, que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão. - A quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor nos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: creio na umbanda, nos seus caboclos e no teu Zambi. Mas somente se vencerem o meu caso, ou curarem-me disso ou daquilo. - A sexta, eu dei aos fúteis que vão de centro em centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente. - A sétima, meu filho, notou como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessa aos médiuns vaidosos, que só aparecem no centro em dia de festa e faltam às doutrinas. Esquecem que existem tantos irmãos precisando da caridade e tantas criancinhas precisando de amparo material e espiritual. Assim, meu filho, foi para esses todos que viste cair, uma a uma, “as sete lágrimas de um preto-velho”.

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