quinta-feira, 29 de agosto de 2019

COMEMORAÇÃO AOS 26 ANOS DO PAI OGUM DA LUA

Uma casa de Xangô Agodô, em dia de festa para o Capitão da Umbanda Pai Ogum da Lua, foi o que se viu no ultimo dia 24 de agosto, data do aniversário desta entidade na cidade de Bagé, no Ilê de meu filho Daniel.
Muito verde e vermelho, cores da energia ativa, foi visto desde as flores aos balões do Pai Ogum da Lua, Entidade que desbravou os caminhos para o surgimento da casa, fundada no mês de agosto.
São muitos os caminhos que se entrecruzam, desde o mito à matéria, entre o sagrado e seus devotos, entre a divindade e a história das pessoas nessa noite reunidas em louvação.
A fé transformada em festa, orações em forma de canticos, o congá rodeado por médiuns ajoelhados, alguns incorporados com antigos espíritos guerreiros, soldados venerando seu senhor na figura da imagem de um cavaleiro de armadura, o toque da alvorada, o batucar do tambor.
Há uma história de 26 anos que não pode ser contada apenas por esta festa, um verdadeiro marco que iniciou uma coisa tão grande em nossos corações como grande na ajuda das milhares de pessoas que passaram por seu conforto durante este longo período. Uma grande festa, que de forma simples e direta anunciou, que guerreiros nunca faltaram e nunca vão faltar no intuito de avançar cada vez mais, no único sentido firmado e anunciado, que é o de ajudar uns aos outros como soldados de um mesmo regimento.
Ogunhê meu Pai querido, teus soldados te agradecem por mais esta batalha vencida no ano de 2018!!!
Abaixo belas imagens registradas por meu filho, netos e madrinha de todas as cabeças.



Meu filho Daniel d'Xangô Agodô e alguns netos


Meu filho Daniel d'Xangô Agodô e a madrinha de todas as cabeças Flora d'Ogum Adiolá


Meu filho Daniel d'Xangô Agodô e um pouco de sua corrente


Trabalhos ministrados por seu capitão

Congá







sábado, 24 de agosto de 2019

NÃO ENTRE PARA A NAÇÃO

Se não quer ficar os dias necessários à iniciação...
Não entre para a Nação
Se não pretende cumprir os preceitos e conceitos estipulados...
Não entre para a Nação
Se não pode comer isso ou aquilo porque não gosta...
Não entre para a Nação
Se tem medo de segurar os bichos e até mesmo tem nojo de limpar eles depois da sacralização...
Não entre para a Nação
Se não gosta de regras e não tem tempo para as funções do ilê...
Não entre para a Nação
Se não respeita seu corpo como um templo de Óríxà, se não respeita o Abassá e seus membros...
Não entre para a Nação
Se não respeita sua Yálórìxá ou seu Bábàlórìxá...
Não entre para a Nação
Se não quer se curvar aos mais velhos

Não entre para a Nação
Se não o reconhece como religião negra de resistência/quilombo...
Não entre para a Nação
Se não sente o chamado dos deuses negros em seu ser...
Não entre para a Nação
Se acha que tudo isso é desnecessário!
Existem muitas outras religiões onde as doutrinas são mais flexíveis, não estrague por capricho, uma religião que resiste a séculos de perseguições e demonizações vindas de fora.
Siga seu caminho e seja abençoado.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

ENTÃO SEGUE, MAS RESPEITA O TEMPO QUE PASSASTE POR AQUI...

Filhos de santo, não são propriedade do Pai de Santo. As pessoas entram em nossas casas, trazidas pelos seus Orixás, em um momento de necessidade. Necessidade de aprender, de melhorar, de buscar algo mais ... Muitas vezes quando esta necessidade é suprida o próprio Orixá segue seu caminho, para a próxima etapa. Ninguém é igual a ninguém. Ninguém é menos ou mais que alguém. Tem pessoas que se acomodam. Tem pessoas que tem "sede" de fazer mais e aprender mais. Tem pessoas que fazem uma breve passagem e tem pessoas que ficam. E os Orixás continuam sua busca pelo seu caminho ancestral. Se permitam a entender a busca daqueles que um dia se abrigaram em nossas casas, durante uma chuva. Era uma passagem, um reencontro. Talvez uma ponte, um descanso. Por mais que tenhamos criado vínculos de afeto e amizade, deixe-os seguir sua busca, assim como queremos seguir a nossa!
Este texto é direcionado aos meus irmãos donos de casa, mas principalmente a todas as pessoas(filhos) que um dia se abrigaram nas cabaças de meu Pai, aprendam que "mão não sai com sabão de coco", é apenas " aliviada". Sigam suas vidas e tenham toda e completa certeza de que de jamais "estragarei com os pés aquilo que fiz com minhas mãos".
Espero sinceramente que pensem e repensem quando aqui estiveram, se eu tomaria tal atitude. Se alguém em búzio, ocupado ou incorporado lhe disser isto, creia " será mentira"
Faço deste texto também minhas palavras... todos temos o direito de seguir em frente, eu mesmo um dia segui...

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

AXÉ ESTÁ NA COZINHA - NADA É POR ACASO


Aprendi com quem sabia. Axé das canjicas, axé do arroz com leite e axé do sagu. Isso mesmo!
Esses pratos, tradicionalmente, eram feitos pelo babalorixá, principalmente em momentos de necessidade de súplica. Ninguém é melhor do que ninguém, mas se o babá, dono da bandeira, coloca a mão na colher de pau, é magia. Assim, as canjicas são a fartura na casa, se feitas pelo babalorixá. O arroz com leite, pedido de paz para Oxalá. O sagu, saúde para todos os filhos. São axés doces, onde o babá mexia a panela pedindo por todos os seus filhos. "Umbigo no fogão é axé do pai de santo".
Isso sem falar no cocô dos cabritos, quando lavados, mas isso é outra história.
Criança no balaio, pedido de misericórdia que não pode ser negado por orixá de praia.
Criança na gamela, o mesmo pedido, para os orixás de frente ou apresentação de abicum ou do início de uma nova goa (filhos carnais de babalorixás), se no lado de Oyó.
Fica a dica, sempre fui perguntador, e o que ouvi, nunca mais esqueci. Quando vemos os fatos mais cotidianos, em um terreiro, podem estar cheios de magia.
Em vez de ficarmos de olho aberto catando fofoca ou maledicência, não custa abrir nossos corações para o axé.
esse texto não é meu, mas, achei maravilhoso... créditos á
RICARDO DE OXUM OLOBÁ

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

INCORPORAÇÃO - CONSCIENTE, SEMI-CONSCIENTE E INCONSCIENTE


A mediunidade de incorporação pode ser de três formas, sendo elas:
- CONSCIENTE: é o tipo de mediunidade de incorporação mais comum, nela o médium permanece consciente e estará vendo todas as situações que ocorrem nos trabalhos. Mas isso acaba fazendo uma confusão na cabeça do médium no inicio de seu desenvolvimento, pois ele acaba muitas vezes duvidando das comunicações enviadas a sua mente, pensa que é ele mesmo quem está transmitindo as mensagens com suas próprias palavras, o que não é a realidade quando o médium está integrado a uma corrente mediúnica séria.
- SEMI-CONSCIENTE: é o tipo de incorporação onde o médium está presente, vendo e ouvindo tudo que acontece, porém como a manifestação da entidade é muito forte e sentida pelo médium, ele fica apenas com vagas lembranças dos fatos ocorridos, as coisas vistas e ouvidas desaparecem rapidamente, podendo até mesmo ser comparado com um sonho. Esse é um tipo de mediunidade menos comum.
- INCONSCIENTE: é a mais rara de todas, antigamente era muito comum, hoje em dia são pouquíssimos médiuns que a possuem. Nela as entidades tomam o médium em sua totalidade, onde após a entidade ir embora, o médium não lembra de nada do que aconteceu e nem quem se aproximou de suas entidades. Embora muitos médiuns afirmam ser inconscientes, esse tipo de mediunidade NÃO É COMUM.
Podemos dizer que 90% dos médiuns SÃO CONSCIENTES.
Não tenha medo de falar que vê ou escuta tudo ou pelo menos se recorda de algumas coisas, isso não te faz menor que ninguém, acredita, confia nas entidades que do teu corpo utilizam para trabalhar, pois ser médium consciente é um eterno aprendizado.
Se queres que as pessoas acreditem e confiem nos teus guias, primeiramente tu precisa acreditar na força deles e não é dizendo que não lembra de nada que tu vai conseguir isso!

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

FESTA DE EXUS NA CASA DE MEU FILHO DANIEL D'XANGÔ AGODÔ

Na noite de sábado  3 de agosto, na cidade de Bagé, meu filho Daniel d'Xangô Agodô, recebeu em seu ilê: filhos de santo, corrente, clientes e uma média de 130 convidados para celebrar a primeira obrigação de Exu do ano de 2019.
A comemoração começou as 22 horas e terminou pontualmente as 2 horas da madrugada de domingo.
Como todas as festas que acontecem no Ilê de Pai Dani, esta também foi coroada de muito êxito, muita magia e muito Axé, que é o que realmente importa  quando se festeja um ritual de Quimbanda. O tambor ficou por conta do meu neto Alabê  Deivid Annah dBará Agelú, sempre impecável na seriedade em que conduziu toda a festa. O ato religioso em si foi ministrada pela bastante famosa na cidade de Bagé, Pomba Gira Cigana Sara e Exu Tiriri de meu filho Daniel.
Parabéns pela festa maravilhosa!!!

Dani e seus filhos responsáveis pela preparação dos Axés

Mesa dos Exus

Pomba Gira Cigana Sara e Exu Tiriri



Alabê Deivid


sexta-feira, 2 de agosto de 2019

BARÁ É DO MAL?

Esta é uma história de mentira porém verdadeira. Não se trata de uma lenda.
Um dia, há muito tempo atrás, tive um filho de santo com 16 anos. Toda a sua família fazia parte do meu Ilê e já havia muito tempo sua mãe insistia que ele gostaria de fazer parte do culto e eu sempre respondia que era cedo. Consultei os Búzios e realmente Oxalá pedia obrigação e assim ele teve sua cabeça lavada com Mieró e passou a ser meu Iaô. E logo após fazer parte da casa ele me perguntou:
- Pai, por que as pessoas dizem que Bará é do mal?
Abriu-se um rasgão no tempo e eu entrei por ele. Recordei de todas as vezes em minha infância e adolescência em que a minha fé me criou problemas de ordem social. Aquele filho novinho em idade e no culto podia estar passando agora por problemas que eu já tinha passado e eu precisava ajuda-lo de alguma forma, mostrando a ele que a nossa fé nos fortalecia, nos tornava atores principais de nossas vidas e não coadjuvantes. Foram um milhão de pensamentos em uma fração de segundos, eu precisava costurar fragmentos e sentimentos e entregar para ele confiança e argumentos que jamais lhe  deixassem inseguro.

- Filho você sabe o que é caos?
- Não, Pai. Mas é ruim?
Voltei aos meus pensamentos...
Nos dias atuais e com a raiz cultural tão cristã que vivemos, com evangélicos loucos nos demonizando e agora até mesmo padres que pareciam ser mais imparciais, ter como responsabilidade explicar a nossa filosofia e os nossos Orixás para um adolescente de uma forma racional, lógica, mas sem perder a poesia e a magia era um grande desafio. Mas mesmo sendo muito difícil, aquele era o momento de dar argumentos para que ele se sentisse abençoado e empoderado por fazer parte de alguma forma desse universo Africano.
Antes de vir com toda aquela história já conhecida por nós de Bará (Exú, no Candomblé) versus Diabo, eu resolvi fazer diferente. Eu respirei o mais fundo  que pude e deixei meu Ori me levar por um conto que nunca foi contado, mas que nasceu ali naquele momento de forma espontânea. Até porque acima de tudo estávamos falando do meu orixá, do dono da minha vida...
Continuei...
Numa época há muitos e muitos anos havia um devoto de Bará chamado Baráemy. Emy andava inquieto consigo, sentia-se perdido, sua vida estava muito parada e ele queria dar mais movimento à ela, estava insatisfeito com o rumo que a sua vida tomava. Ele resolveu visitar um amigo que morava do outro lado do deserto. Esse amigo havia acabado de abrir um pequeno negócio de vendas e ele queria ver como estavam as coisas, para talvez tentar o mesmo em sua cidade.
Antes de viajar Emy procurou Bará e contou a ele sobre a viagem. Bará lhe disse que como ele já sabia, tudo na vida era uma troca, que para cuidar dele durante a viagem que duraria dias e garantir que chegasse bem até o outro lado do deserto, ele deveria fazer uma oferenda, e que assim ele iria garantir que estaria com ele durante todo o percurso. Emy fez a oferenda. Bará lhe aconselhou a se organizar bem na viagem e levar o que era necessário.
No dia seguinte, antes mesmo do sol beijar o nosso horizonte, Emy pegou sua sacola com água e algumas roupas, mas deixou o mapa para trás, pois sabia que era um reta só e já tinha feito aquele caminho algumas vezes. Emy mirou o horizonte e disse para si mesmo: Só preciso ir reto que em dois dias de caminhada eu logo chego.
Ele foi.
Bará foi com ele.
Partiu cantando:
Bará me acompanha onde eu vou
Bará está no meu caminho
Lalú me apoia
Oxalá me abençoa
Nas primeiras horas de caminhada ele já estava cansado. Bará apenas observava o seu devoto, mas esperava com paciência o momento em que ele se lembraria de tudo que Bará o ensinou ao longo dos anos, perante a sua devoção. Mas a irritação e a impaciência dominavam Emy e ele já não pensava direito.
Em 24 horas de viagem, com direito a uma pausa para descanso, Emy percebeu que já tinha bebido quase toda a sua água. Bará  o observava, sabia que Emy não tinha se organizado como ele o aconselhou. Mais seis horas se passaram e a água acabou. De repente Emy ficou frente à frente dos seus próprios passos na areia, foi aí que ele percebeu que estava andando em círculos.
Bará OOOOOO!
Bará eu te saúdo!
Bará, eu te chamo!
Bará, eu te chamo!
Bará, eu te chamo!
Meus respeitos, Bàbá mi! Por favor me ajude, estou com sede e ainda longe do meu destino e perdido.
Nada aconteceu.
- Onde está você? - Emy clamava por Bará.
- Preciso da sua ajuda! - Ele insistia.
O silêncio do deserto era absoluto.
Emy ficou irritado e ainda mais impaciente, começou a gritar e esbravejar no deserto que Bará o tinha abandonado. Que o Orixá Bará o tinha esquecido.
Enquanto isso, Bará apenas observava.
Emy arriscou continuar caminhando em uma direção, pois se desistisse morreria ali mesmo, mas a direção escolhida não era a certa. Foi aí que Bará correu como uma flecha na frente de seu devoto. Bará escolheu um local e começou a cavar um buraco na areia. Ele cavou, cavou, cavou e cavou. De dentro da sua sacola tirou três objetos e os jogou dentro do buraco.
Quando o devoto de Bará ia passando perto do buraco, Elegbará pediu que um pássaro cantasse no céu e foi o que chamou a atenção de Emy, fazendo-o olhar para cima, com mais dois passos, ele caiu dentro de um buraco com mais de 4 metros de profundidade.
Pausa dramática!!!
-    Pai, Bará fez Emy cair dentro do buraco de propósito? (Ele me perguntou num tom de indignação.)
-    Sim. (Eu respondi segurando a risada.)

Ele ficou me olhando desconfiado e eu voltei para a narrativa.
Emy caiu no buraco e continuou com os olhos fechados. Ele chorou. Com as mãos sobre o rosto, ele se sentia abandonado e agora traído por Bará. Ele agora estava no meio do deserto, perdido, cansado, com muita sede, desidratado, caído dentro de um buraco e sem ter como sair... e o pior de tudo, Bará tinha mentido para ele.
Sentado na beira do buraco, Bará balançava as pernas e observava. Emy era devoto há tantos anos e ainda não sabia como agia Bará. Emy só via a sua desgraça, só conseguia sentir pena de si mesmo. Horas se passaram e ainda com os olhos fechados, ele lembrou da recomendação do Bará: " SE ORGANIZE".
- BURRO! Ele gritou. Quase sem força na voz de tanta fraqueza.
Bará então conversou silenciosamente com o Orí de Emy, pedindo para que ele parasse de ter pena de si mesmo e abrisse os olhos. Orí escutou Bará, Orí também queria sair dalí. No mesmo instante ele abriu os olhos, limpou a areia de seu rosto e viu água, uma corda e um mapa e gritou:
Alupôoooooooooooooo!!!
Emy, o teimoso, impaciente e desorganizado, agora tinha aprendido a lição.
Com a água matou sua sede, com a corda ele laçou a árvore seca que estava à beira do buraco e com o mapa ele seguiu na direção correta.
Meu filho ficou olhando para o nada, enquanto eu observava o semblante dele. Esperei ele dizer algo.

- Pai, é assim que o Bará age em nossa vida?
- Sim.
- As pessoas acham que ele fazer Emy cair no buraco faz dele mau?
- Sim.
- Mas Pai, por que ele simplesmente não deixou a corda, a água e o mapa no meio do caminho, ao invés de fazer ele cair no buraco?
- Porque Emy precisava se fortalecer. Nós só nos fortalecemos quando chegamos no nosso limite e é através das lições da vida que nos tornamos mais fortes. ( E eu fui em frente) Agora me diga o que é o caos?
- É o buraco?
- Simmmm! (Eu disse com um sorriso largo no rosto cheio de orgulho por ter me feito entender) – E o caos é bom ou ruim?
- Ele é bom, mesmo que na hora a gente não entenda.
- Bará é bom ou ruim?
- Depende de como entendemos o que é bom ou mau.
- Tu entendeu?
- Sim Pai, mas eu ainda tenho mais uma pergunta.
- Pode fazer filho.
- Bará deixaria Emy sem ajuda?
- Claro que não! Bará tem uma palavra só. Mas ele espera que façamos a nossa parte e tenhamos o comportamento que ele nos ensina. Temos que confiar naquilo que acreditamos, pois de qualquer outra forma, não é fé.
Somos seguidores dos Orixás. Somos por excelência protagonistas de nossas vidas, e quem está no comando somos nós.
Dedico este texto a minha primeira Yalorixá Mãe Vanda d'Bará Lanã que há 35 anos me iniciou no Africanismo. 
o ṣeun pupọ iya mi. Emi yoo ko gbagbe ohun ti Mo kọ ati lailai mu orukọ rẹ