sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A FESTA GRANDE




Chamamos de festa grande a obrigação que tem ebó, ou seja quando há sacrifícios de animais de quatro pés, oferecemos aos Orixás cabritos, cabras, carneiros, porcos e ovelhas, (quando se matam somente aves aí é quinzena). Costumamos fazer festa de quatro pés para nossos Orixás de quatro em quatro anos, e serve para homenagear o Orixá "dono da casa", e é onde os filhos que ainda não tem sua casa de religião própria aproveitam para fazerem suas obrigações de dar comida a seus Orixás também. È uma cerimônia que coincide com a data em que aquele sacerdote teve assentado seu Orixá de cabeça, ou seja a data de sua feitura. A festa dos Orixás tem um ciclo ritual longo, começando com a feitura de trocas (limpezas de corpo) que é feita em todos os filhos que irão fazer obrigações para seus Orixás; limpeza na casa compreendendo todas as construções que fazem parte daquele terreiro, o Pai ou Mãe de Santo também faz uma troca. Troca é um trabalho de limpeza de corpo que se faz dentro da religião, usando vários axés de Orixás, varas de marmelo vassouras de Xapanã, um galo para sacrifício e uma outra ave para soltar viva, geralmente usa-se pombo, mas conforme for o caso podemos soltar galos ou galinhas, vivos, para acompanhar um axé de troca (que envolve sacrifício). Após tudo descarregado ainda fizemos um axé doce para os Orixás de praia Bará Ajelú, Oxum, Iemanja e Oxala e também é passado nos elebós e na casa. No dia da matança é que fizemos a homenagem para os Barás, que também serve como segurança para a obrigação; no candomblé chamam este ritual de Padê. Por que são feitos tantos axés antes do começo de uma obrigação? Muita gente faz esta pergunta e é bom esclarecer que se uma pessoa vai dar "comida" a seus Orixás, irá fazer um retiro espiritual dedicado ao Santo, tem que estar com o corpo e a "aura" limpos, sem qualquer vestígio de cargas negativas, sem acompanhamento espiritual ruim, em fim livre de qualquer perturbação, pois se alguém colocar Axorô (sangue) na cabeça com cargas ruins no corpo, acabam fortalecendo mais a força negativa; todos indivíduos que participarem de uma obrigação de Orixá, desde o tamboreiro (alabê) devem estarem "limpos", também, espiritualmente. Nesta ocasião também se confirmam os graus de iniciação dos filhos da casa como Bori, e aprontamento, no qual os filhos podem receber seus axés de facas e de búzios, enfim é nesta ocasião que se realizam as grande solenidades rituais dos terreiros de nação para o crescimento pessoal e espiritual dos filhos da casa, e também servem para reforçar os próprios sacerdotes e seus Orixás. Antigamente as casa de religião afro realizavam a festa do boi, com sacrifício de um touro pequeno, o ritual durava um mês inteiro, após, era a festa de quatro pés, com sacrifício de bodes, cabras, ovelhas, porcos e carneiros, depois a matança era de peixe e finalmente a confirmação da festa com sacrifício de aves e a terminação era com a mesa dos Ibêjes; hoje em dia, quase não existe mais quem faça este ritual.

Após as limpezas todas, logo que se passa o axé de Bará e o galo que será oferecido no cruzeiro (encruzilhada), os elebós (pessoal de obrigação) tomam um banho de descarga e já ficam confinados ao templo, ou seja, abandonam provisoriamente a vida social externa em favor dos rituais. A partir deste momento não se pode dormir em camas, fazer a barba e tomar banho (nos dois primeiros dias), conversam somente o necessário, não vêem televisão, não falam ao telefone, não comem com garfo e faca; comida comum come-se de colher, e de orixás, usa-se os dedos para por os alimentos na boca, de acordo com o chefe da casa estas imposições podem ser mais ou menos rígidas, por exemplo em certas casas quem tem o axé de facas podem fazer uso de facas para cortarem os alimentos.

Quando o pessoal que foi fazer a obrigação de corte no cruzeiro voltar aí começa a matança no Bará Lodê e Ogum Avagã, que habitam uma casa na parte da frente do terreiro, nesta matança é oferecido um quatro pé e aves para o Lodê e outro quatro e as aves,correspondentes, para Ogum Avagã. Nesta matança participam somente homens e mulheres que não mestruam mais. Os quatro pés são apresentados aos Orixás; faz-se uma "chamada", na qual são feitos os pedidos de proteção e caminhos abertos para tudo aquilo que é bom para todos os filhos presentes e ausentes etc... encaminha-se os cabritos, já com os pés lavados, do portão até a frente da casa dos Orixás Lodê e Avagã, onde estão as vasilhas com os assentamentos, os animais devem comer folhas verdes(orô, folhas de laranjeira, etc.), que é um sinal de aceitação da oferenda pelo Orixá, assim que o animal comer já é levantado e é feito o corte para o Orixá Lodê e em seguida o mesmo para Ogum Avagã; a matança é acompanhada com o toque de tambores e agê, e tira-se axés para cada Orixá que receberá o sacrifício, na hora que corre o axorô tira-se um axé determinado, isto é para todos Orixás que irão ter animais de quatro pés como oferenda. Na nação Ijexá os animais sacrificados para o Bará Lodê e Ogum Avagã, entram pela porta dos fundos do salão; neste já esta arriado no chão uma toalha grande com todos os axé de Bará a Oxalá; coloca-se nesta "mesa" os quatro pés e as aves. E aí canta-se novamente um axé para cada Orixá do Bará ao Oxalá e levanta-se os quatro pés e leva-se, pela porta dos fundos, para serem limpos; tira-se o couro, que será aproveitado(para fazer tambores), tira-se a buchada que será enterrada, e dos miúdos como: fígado, rins, coração etc.. são cozidos e destes são tirados pedaços que farão parte das inhalas (partes dos animais que pertencem aos Orixás) do restantes dos miúdos é feito o chamado sarrabulho. Assim que são retirados da "mesa" os quatro pés dos orixás de rua, começa a obrigação dos Orixás de dentro de casa; o ritual é o mesmo começando agora com Bará Adague que come cabrito de cor avermelhado ou preto com branco; Bará Ajelú que come cabrito Branco; Ogum come bode de cores variados menos preto, Iansã come cabra avermelhada ou preto com branco; Xangô que come carneiro, Odé come porco, Otim come porca, Obá come cabra mocha (sem chifres), Ossãe come bode de cor clara; Xapanã come bode de cores variadas, menos preto; Oxum come cabra amarelada, Iemanja come Ovelha, Oxalá come cabrita branca; Na nação Ijexá não oferecemos animais de cor preta para nenhum Orixá, nem mesmo para o Bará Lodê, que é Orixá de rua. Para cada Pessoa que está de obrigação corta-se um quatro pé para o Bará que corresponde para ela, nesta nação, não se pode dividir um animal de quatro pés para mais de um Bará; e o animal do Orixá de cabeça também é separado, cada Orixá de cabeça come seu quatro pé correspondente. 

Pela ordem, a cada sacrifício os filhos vão recebendo o axorô de seu Orixá no ori, cobre-se a cabeça com as penas das aves e o padrinho amarra a trunfa. No momento que se corta para o Orixá de cabeça é guando o Orixá pode se manifestar em seu filho(a).

Os quatro pés oferecidos para os Orixás de dentro de casa também são arreados na toalha que está estendida no chão (no salão), com os axés de Bará ao Oxala. Após cotar para o último Orixá, que é o pai Oxalá, tira-se novamente uma reza para cada Orixá (canta para os Orixás) do Bará até o Oxalá e os Orixás que estão no mundo, incorporados em seus filhos, vão despachar as águas das quartinhas que estavam na "mesa" de quatro pés, na volta já é levantado a mesa, retirando-se os animais na ordem em que foram sacrificados; Neste momento entra em ação o pessoal da cozinha, que já começam a servir a obrigação do pirão do Lodê e do Avagã e todos devem comer de pé(os fiéis não se sentam, para comer, em respeito a este Orixá), é servido primeiro para os homens e para as mulheres de cabeça de Orixá masculino, pede-se agô, na porta da frente e deve ser comido sem o auxilio de talheres, usa-se os dedos para comer o pirão; Todos os animais que foram sacrificados deverão serem limpos e preparados para servir para os que estão de obrigação e distribuídos para o pessoal levar para casa no final da festa, junto com outros axés como: pipoca, rodelas de batata doce frita, feijão miúdo cozido e refugado com tempero verde ( salsa e cebolinha verde), farofa, bananas, maças, laranjas, acarajé, axoxó, que são servidos em bandejas e é o que chamamos de mercado; através dos "mercados" a energia dos orixás, festejados, também chegam até a casa dos participantes em geral, nesta obrigação. 

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