Conta-se que Iemanjá morava com seus dois filhos, Ogum e Odé. O primeiro sempre envolvido com seu trabalho nos campos, não era causa de preocupação para sua mãe. O segundo sim. Odé gostava muito de caçar e, às vezes, passava dias fora de casa enfurnado nas matas.
Um dia, ao consultar um Babalaô, Iemanjá foi avisada que deveria impedir o filho de caçar, pois se ele encontrasse Ossãe, não mais retornaria ao lar. A pobre mãe, muito aflita, assim que chegou a casa chamou por Odé e o proibiu terminantemente de voltar a mata, sem, contudo, dizer-lhe o motivo da proibição.
Durante alguns dias, o rapaz obedeceu e evitou a caça. Mas o tempo foi passando, e ele, não conseguindo dominar o desejo, resolveu fazer o que mais gostava. Saiu andando pelas matas sentindo a liberdade que esses momentos lhe proporcionavam.
Tão empolgado ficou que se embrenhou no mais profundo da floresta sem perceber que ja estava muito distante do lar. De repente, numa clareira, ele se depara com Ossãe, o senhor das folhas, que ao ver o belo jovem, imediatamente por ele se apaixonou e o convidou para conhecer a sua morada.
Sem conhecer as previsões do Babalaô e achando o rapaz muito simpático e amigável, Odé o acompanhou. Ossãe, então, usando de seus poderes e conhecimentos sobre as ervas, preparou rapidamente uma poção e a serviu para o rapaz que no mesmo instante perdeu completamente a memória e foi convencido pelo novo amigo de que moravam juntos. Odé tornou-se assim, amante de Ossãe.
Ogum preocupado com o sumiço do irmão, procura incessantemente pela mata alguém que lhe dê noticias do jovem. Enfim, alertado por um pássaro, consegue encontrar Odé que, assim que olha para o irmão, recupera a memória e, envergonhado com sua própria inocência, parte em sua companhia, sem olhar para trás.
Ao chegar em casa, Odé é recebido friamente por Iemanjá que não se conformou com a desobediência do filho. Magoado e sem ter para onde ir, volta para a casa de Ossãe, onde sempre fora bem tratado. Dessa forma, os dois Orixás passaram a cuidar de toda a floresta.Odé como o rei da fauna e Ossãe como o rei da flora.
Ossãe recusa-se a cortar as ervas miraculosas
Ossãe era o nome de um escravo que foi vendido a Orumilá. Um dia ele foi a floresta e la conheceu Aroni, que sabia tudo sobre plantas. Aroni, o gnomo de uma perna só, ficou amigo de Ossãe e ensinou-lhe todo o segredo das ervas. Um dia, Orunilá, desejoso de fazer uma grande plantação, ordenou a Ossãe que roçasse o mato de suas terras. Diante de uma planta que curava dores, Ossãe exclamava: "Esta não pode ser cortada, é a erva das dores". Diante de uma planta que curava hemorragias, dizia: "Esta estanca o sangue, não deve ser cortada". Em frente de uma planta que curava febre, dizia: "Esta também não, porque refresca o corpo".E assim por diante. Orumilá, que era um Babalaô muito procurado por doentes, interessou-se então pelo poder curativo das plantas e ordenou que Ossãe ficasse junto dele nos momentos de consulta, que o ajudasse a curar os enfermos com o uso das ervas miraculosas. E assim Ossâe ajudava Orumilá a receitar e acabou sendo reconhecido como o grande médico que é.
Ossãe dá uma folha para cada Orixá
Ossãe, filho de Nanã e irmão de Xapanã, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas, o Orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os Orixás recorriam a Ossãe para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossãe na luta contra a doença. Todos iam a casa de Ossãe oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossãe lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens.
Curava as dores, as feridas, os sangramentos, as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, orgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o Deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de Ossãe, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô sentenciou que Ossãe dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas Ossãe negou-se a dividir suas folhas com os outros. Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas da mata de Ossãe para que fossem distribuídas ao Orixás. Mas, teria que ser com o vento, e nunca em uma batalha, porque Ossãe contava com o amante Odé, que além de lutar a seu favor, por revolta com os outros, em caso de guerra, não mais abasteceria as aldeias com a caça. Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô.
Ossãe percebeu o que estava acontecendo e gritou: " Eu Eu Uassá!" - "As folhas funcionam!". Ossãe ordenou que as folhas voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossãe. As que estavam em poder de Xangô perderam o Axé, perderam o poder de cura. O Orixá Rei, que era um Orixá justo, admitiu a vitória de Ossãe. Entendeu que o poder das folhas deveria ser exclusivo de Ossãe e que assim deveria permanecer através dos séculos. Ossãe, contudo, deu uma folha para cada Orixá, cada qual, com seus Axés e seus Efós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossãe distribuiu as folhas aos Orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossãe não conta seus segredos para ninguém, Ossãe nem mesmo fala. Fala por ele seu criado Aroni. Os Orixás ficaram gratos a Ossãe e sempre o reverenciam quando usam as folhas.
Para entrar em contato com pai Guilherme d'Bará ligue para o fone 53 84352242 ou pelo email buzionline@hotmail.com
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