Para atrair felicidade e saúde, faça um defumador, com salsa triturada, louro, chá preto e noz-moscada ralada, da porta da entrada para dentro. Despache as sobras debaixo de uma árvore frondosa.
Para ter sucesso em entrevistas e emprego:
para ter sucesso em entrevistas e empregos faça um breve com folhas de café e 7 sementes de laranja. Leve na bolsa no dia da entrevista.
Simpatia da semana para afugentar o Baixo Astral:
Começo do ano, vamos mandar as tristezas e saudades para bem longe, pegue um sapatinho de crochê de bebe na cor branca e coloque dentro 7 balas de coco. Vá em uma igreja e assista à uma missa segurando o sapatinho, e quando o padre der o Amem final diga: "é o fim de tristezas e saudades". Deixe o sapatinho em uma grama. Faça com fé e xô tristeza.
Oração de Ogum:
Ogum rogai por nós,
Nunca ficará sem resposta aquele que nele crer... Ogunhê meu pai!!!!
Eu andarei vestido e armado com as armas de Ogum para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem e pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.
Glorioso Ogum, em nome de Deus, estenda-me seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Espirito Santo.
Que assim seja, Amem.
Muito além da lenda
Ali, na divisa de Tramandaí e Imbé, na barranca do rio, morava o negro Roberto de Ogum Adiolá. Jovem bonito e faceiro, fazia graça por onde passava. Ele era muito considerado pelos moradores da vila, em sua maioria como ele, pescadores. A pesca era artesanal, dispunham de pequenos barcos para adentrarem ao mar. Ali não tinha moleza, o neguinho tinha que ser macho pêlo duro para enfrentar a barra que ligava o rio ao mar, não tinha escolha, era pegar ou largar e todos os dias colocar a vida em jogo. Saíam para o mar sem saber se iriam voltar.
Para ele, um meninão de corpo atlético, em cima dos seus dezoito anos, aquilo tudo não passava de uma brincadeira, dominava o mar e tinha por ele respeito e uma certa cumplicidade. Ria ao ser perguntado se tinha medo.
- Eu? Filho de Ogum Adiolá, escravo de Yemanjá, protegido por Oxalá, o senhor das águas, como posso ter medo de viver no paraíso?
Para ele, um meninão de corpo atlético, em cima dos seus dezoito anos, aquilo tudo não passava de uma brincadeira, dominava o mar e tinha por ele respeito e uma certa cumplicidade. Ria ao ser perguntado se tinha medo.
- Eu? Filho de Ogum Adiolá, escravo de Yemanjá, protegido por Oxalá, o senhor das águas, como posso ter medo de viver no paraíso?
Mas seus companheiros não pensavam assim, sabiam que muitos já haviam partido para os braços de Yemanjá e ali, naquela colônia de pescadores, viúvas e crianças sem pai eram testemunhas que aquilo não era trabalho digno de certeza, todo o dia era considerado o último. Sair sim, voltar? Talvez.
E a lenda? Bem, a lenda conta que Ogum Adiolá, apaixonado por Yemanjá, pediu-a em casamento e, por obter um sonoro não, havia se jogado ao mar e sucumbira na sua imensidão. Ora bolas, lenda! Poupem-me das tais lendas!
E mais uma lenda conta que por não aceitar um não, Ogum Adiolá passara a viver as margens do mar só para estar perto de sua amada. Lenda e mais lendas, nada além de lendas.
E assim vivia o negro Roberto de Ogum Adiolá, conhecendo as lendas e estórias de Yemanjá, mas, como ele mesmo dizia: - Se eu não conheci ainda a mulher que vai gerar meus filhos, por que razão vou me preocupar em morrer no mar? Meu Pai Ogum tem o mar como pradaria onde galopa em seu cavalo branco, o mar é campo onde meu Orixá vence suas demandas, e eu navego com maestria o timão de meu barco como ele maneja sua espada.
Toda a manhã lá estava ele de bermuda branca, descalço e sem camisa, trazendo no pescoço sua guia azul feita com as pedras extraídas do fundo do mar, cumprindo o ritual de ajoelhar e pedir a bênção de Yemanjá ao aventurar-se na busca dos peixes para vender no mercado, e assim, dar o sustento aos seus pais e irmãos menores.
E a lenda? Bem, a lenda conta que Ogum Adiolá, apaixonado por Yemanjá, pediu-a em casamento e, por obter um sonoro não, havia se jogado ao mar e sucumbira na sua imensidão. Ora bolas, lenda! Poupem-me das tais lendas!
E mais uma lenda conta que por não aceitar um não, Ogum Adiolá passara a viver as margens do mar só para estar perto de sua amada. Lenda e mais lendas, nada além de lendas.
E assim vivia o negro Roberto de Ogum Adiolá, conhecendo as lendas e estórias de Yemanjá, mas, como ele mesmo dizia: - Se eu não conheci ainda a mulher que vai gerar meus filhos, por que razão vou me preocupar em morrer no mar? Meu Pai Ogum tem o mar como pradaria onde galopa em seu cavalo branco, o mar é campo onde meu Orixá vence suas demandas, e eu navego com maestria o timão de meu barco como ele maneja sua espada.
Toda a manhã lá estava ele de bermuda branca, descalço e sem camisa, trazendo no pescoço sua guia azul feita com as pedras extraídas do fundo do mar, cumprindo o ritual de ajoelhar e pedir a bênção de Yemanjá ao aventurar-se na busca dos peixes para vender no mercado, e assim, dar o sustento aos seus pais e irmãos menores.
E foi naquele ano que, durante uma festa de Yemanjá no dia 02 de fevereiro, que ele a viu no meio da procissão, carregando uma garrafa de plástico com uma vela azul dentro e cantando para Yemanjá. Era a Janaína de Yemanjá. Cabrocha, mistura de negro e branco, uma mulata de encher os olhos, boca carnuda, cabelos encaracolados, pele de um bronze dourado e olhos brilhantes... Era ela uma filha de Yemanjá, para não dizer a própria.
Passou a noite toda a admirando e voltou para casa carregando uma certeza: - Esta será a mãe de meus filhos, e isso, minha Mãe Yemanjá, a dos pedidos impossíveis mas sempre realizáveis, me dará.
Na segunda vez que a avistou foi numa festa de batuque. Ao vê-la ocupada pela doce Mãe Yemanjá, soube a quem pedir a realização de seu sonho. Bastava querer muito, do fundo de seu coração e fazer o pedido: casar com ela.
- Ela é o meu bem querer, a quem amarei eternamente. Oxéu, minha mãe, oxéu, minha bela Iabá, Oxéu, minha Mãe Yemanjá. Assim seja.
E no verão daquele ano juntaram os trapos e foram morar num pequeno casebre na vila dos pescadores, numa casinha branca cercada por Paineiras e Coqueiros que gemiam nas noites frias de inverno, época em ela poderia tê-lo por mais tempo. No verão o trabalho era dobrado, nos períodos em que era proibida a pescaria, ele trabalhava como ajudante de pedreiro e pintor.
A juventude daqueles dois resplandecia de alegria e felicidade, mas, como todo jovem, tinham seus anseios: ela por um filho que demorava a chegar e ele, querendo oferecer uma vida mais digna para a sua princesa, pecava por se atirar no trabalho feito louco, deixando-a muitas vezes sozinha, num período de espera e com a solidão amargando seu coração.
Um filho que não chegava e um marido sempre ausente não faziam parte de seu sonho, não desejava isso nem para a sua pior inimiga. Ele era um meninão que nas folgas do trabalho queria estar com os amigos, jogando futebol ou surfando sobre as ondas do mar, como a cavalgar o mar bravio, com a felicidade estampada no rosto e nos olhos.
Ele passava dias dentro do mar e ela a caminhar pela praia, tentando se comunicar com ele através das ondas que iam e vinham a espraiar na praia sua espuma branca, molhando seus pequenos pés. Ela, uma menina a brincar com conchas e pequenos cavalos marinhos, carregava dentro do peito um coraçãozinho apertado pela saudade. Ali ela conversava com sua Mãe Yemanjá, fazia seus pedidos, comungava com seus sonhos e entoava o canto da sereia para agradar seu Orixá, sua doce iabá, sua Mãe Yemanjá.
Passou a noite toda a admirando e voltou para casa carregando uma certeza: - Esta será a mãe de meus filhos, e isso, minha Mãe Yemanjá, a dos pedidos impossíveis mas sempre realizáveis, me dará.
Na segunda vez que a avistou foi numa festa de batuque. Ao vê-la ocupada pela doce Mãe Yemanjá, soube a quem pedir a realização de seu sonho. Bastava querer muito, do fundo de seu coração e fazer o pedido: casar com ela.
- Ela é o meu bem querer, a quem amarei eternamente. Oxéu, minha mãe, oxéu, minha bela Iabá, Oxéu, minha Mãe Yemanjá. Assim seja.
E no verão daquele ano juntaram os trapos e foram morar num pequeno casebre na vila dos pescadores, numa casinha branca cercada por Paineiras e Coqueiros que gemiam nas noites frias de inverno, época em ela poderia tê-lo por mais tempo. No verão o trabalho era dobrado, nos períodos em que era proibida a pescaria, ele trabalhava como ajudante de pedreiro e pintor.
A juventude daqueles dois resplandecia de alegria e felicidade, mas, como todo jovem, tinham seus anseios: ela por um filho que demorava a chegar e ele, querendo oferecer uma vida mais digna para a sua princesa, pecava por se atirar no trabalho feito louco, deixando-a muitas vezes sozinha, num período de espera e com a solidão amargando seu coração.
Um filho que não chegava e um marido sempre ausente não faziam parte de seu sonho, não desejava isso nem para a sua pior inimiga. Ele era um meninão que nas folgas do trabalho queria estar com os amigos, jogando futebol ou surfando sobre as ondas do mar, como a cavalgar o mar bravio, com a felicidade estampada no rosto e nos olhos.
Ele passava dias dentro do mar e ela a caminhar pela praia, tentando se comunicar com ele através das ondas que iam e vinham a espraiar na praia sua espuma branca, molhando seus pequenos pés. Ela, uma menina a brincar com conchas e pequenos cavalos marinhos, carregava dentro do peito um coraçãozinho apertado pela saudade. Ali ela conversava com sua Mãe Yemanjá, fazia seus pedidos, comungava com seus sonhos e entoava o canto da sereia para agradar seu Orixá, sua doce iabá, sua Mãe Yemanjá.
E, numa noite de total abandono saiu e, encontrando algumas amigas, foi passear na pequena pracinha e saborear uma taça de sorvete. Foi o que bastou para as fofoqueiras de plantão deitarem falação sobre sua moral e conduta, afinal, sendo ela mulher de pescador, não era recatada e aproveitava a ausência do companheiro para passear.
Pra quê! Quando o negro Roberto de Ogum Adiolá desembarcou, viu-se cercado pelas cobras a pedir: - Abre o olho, meu filho, abre o olho. Foi este quadro de horror que ele encontrou ao chegar em terra. Como quem conta um conto aumenta um ponto, o dele significava traição, sem-vergonhice e deslealdade, coisa que nunca aconteceu em sua vida e foi com tristeza que ele ouviu, calou e consentiu. Daquele dia em diante sua vida não foi mais a mesma, passou a beber e a perambular pela praia no maior desespero, a gritar: - Aonde foi que eu errei para passar por esta prova, minha Mãe Yemanjá?
A bela Janaína de Yemanjá, sem saber de nada, vivia preocupada com seu companheiro, até que sua Mãe de Santo a procurou. Queria ajudá-lo, mas sentia-se sem forças e não compreendia a causa de tanta revolta. Ela também se perguntava: - Aonde foi que eu errei?
E foi na mesa de búzios que ela teve a revelação e passou a conhecer as lendas de seu Orixá Yemanjá. Seu companheiro era filho de Ogum Adiolá, o Ogum apaixonado por Yemanjá, quem refutara seu amor. Mas ela, Janaína, queria este amor e tudo faria para conservá-lo, lutaria por ele e, se preciso fosse, morreria por este amor.
Negro Roberto de Ogum Adiolá, o pescador, sofrendo a dor da traição, deixou-se levar pelas maldades e difamações que amarguraram seu coração. Tinha vontade de falar com ela, mas os votos de confiança mútuos não permitiam isso, seria um desrespeito ao amor conclamado. Tudo não passava de conjeturas e expô-las, seria uma afronta. “Mas um dia eu saberei a verdade, mesmo que isso me faça perdê-la”. Dúvida cruel a remoer mente e coração.
Uma noite de chuva e temporal, quando os raios rasgavam o céu e o mar revolto vinha bater na praia, o negro Roberto de Ogum Adiolá, podre de bêbado, arrastou a embarcação e navegou em busca da morte, o bálsamo dos desesperados, o alivio dos corações sofridos, o alento dos oprimidos e a libertação para os que amam e sofrem a dor de uma traição.
A notícia de sua ida para o mar chegou a casa de Janaína. Agora ela entendia o que a queda dos búzios havia anunciado... Então era verdade, seu companheiro sofria por uma suposta traição sua e pelo medo de perdê-la. Como uma forma de atingi-la, resolvera pôr fim a vida.
Pra quê! Quando o negro Roberto de Ogum Adiolá desembarcou, viu-se cercado pelas cobras a pedir: - Abre o olho, meu filho, abre o olho. Foi este quadro de horror que ele encontrou ao chegar em terra. Como quem conta um conto aumenta um ponto, o dele significava traição, sem-vergonhice e deslealdade, coisa que nunca aconteceu em sua vida e foi com tristeza que ele ouviu, calou e consentiu. Daquele dia em diante sua vida não foi mais a mesma, passou a beber e a perambular pela praia no maior desespero, a gritar: - Aonde foi que eu errei para passar por esta prova, minha Mãe Yemanjá?
A bela Janaína de Yemanjá, sem saber de nada, vivia preocupada com seu companheiro, até que sua Mãe de Santo a procurou. Queria ajudá-lo, mas sentia-se sem forças e não compreendia a causa de tanta revolta. Ela também se perguntava: - Aonde foi que eu errei?
E foi na mesa de búzios que ela teve a revelação e passou a conhecer as lendas de seu Orixá Yemanjá. Seu companheiro era filho de Ogum Adiolá, o Ogum apaixonado por Yemanjá, quem refutara seu amor. Mas ela, Janaína, queria este amor e tudo faria para conservá-lo, lutaria por ele e, se preciso fosse, morreria por este amor.
Negro Roberto de Ogum Adiolá, o pescador, sofrendo a dor da traição, deixou-se levar pelas maldades e difamações que amarguraram seu coração. Tinha vontade de falar com ela, mas os votos de confiança mútuos não permitiam isso, seria um desrespeito ao amor conclamado. Tudo não passava de conjeturas e expô-las, seria uma afronta. “Mas um dia eu saberei a verdade, mesmo que isso me faça perdê-la”. Dúvida cruel a remoer mente e coração.
Uma noite de chuva e temporal, quando os raios rasgavam o céu e o mar revolto vinha bater na praia, o negro Roberto de Ogum Adiolá, podre de bêbado, arrastou a embarcação e navegou em busca da morte, o bálsamo dos desesperados, o alivio dos corações sofridos, o alento dos oprimidos e a libertação para os que amam e sofrem a dor de uma traição.
A notícia de sua ida para o mar chegou a casa de Janaína. Agora ela entendia o que a queda dos búzios havia anunciado... Então era verdade, seu companheiro sofria por uma suposta traição sua e pelo medo de perdê-la. Como uma forma de atingi-la, resolvera pôr fim a vida.
- Não, isso não está certo e vou agora mesmo resolver esta quizila. Ao abrir a porta, recebeu no corpo a golfada do vento e da chuva fria. Uma multidão de pessoas a cercaram, eram os companheiros de pesca de seu marido e um bando de viúvas desesperadas que sabiam que ele nunca mais voltaria, que o mar o havia tragado. Como o seu Chico, um pescador antigo, dizia: - As águas do mar não são árvores, por isso não possuem galho. Ali entrou, ali sucumbiu.
Janaína correu até a praia e, no meio daquela tempestade, avançou mar adentro. Possuída pela revolta, queria, se possível, ir até o fundo do mar buscar seu marido, não entregaria facilmente o sentido de sua vida, viera ali para lutar e ela estava apenas começando. Gritou para sua Mãe Yemanjá: - Se eu não o trai, se eu não menti, se ele me ama, qual a explicação para tudo isso? Não, minha Mãe Yemanjá, tu não vai fazer isso comigo, não vai mesmo.
Algumas pessoas ainda tentaram dissuadi-la, pedindo para que retornasse para casa e ficasse na espera de noticias. Ninguém se atrevia a enfrentar o mar. Na noite escura como um breu não se enxergava um palmo a frente do nariz, a não ser quando os raios explodiam sobre suas cabeças. Mas ela continuou firme, dali não arredaria o pé, não desistiria, era obstinada e sua Mãe Yemanjá sabia o quando ela era sincera em seu amor. Não nascera para perder, ainda mais se tratando de seu amado.
Sentada na areia, cochilou. Foi quando a tempestade aplacou, o vento parou e o mar doce veio beijar seus pés. Despertou assustada, sem saber que horas eram, mas, pela fome e pela dor que remoíam seu corpo, pressentiu que passava do meio-dia. Tinha que voltar para casa e saber se os homens haviam entrado no mar para procurá-lo. Estava pensando em ir até a capitania dos portos onde as grandes lanchas faziam o socorro, quando viu um jipe aproximar-se, eram os colegas de seu marido. Eles não precisaram falar nada, traziam a reboque o barco que levara o negro Roberto para o fundo do mar.
Aproximou-se e acariciou o barco, passando a mão no local onde em muitas noites de lua cheia os dois sentavam para admirar as estrelas e namorar. Constatou que o barco estava intacto, nenhum arranhão na pintura. “Se o barco está assim, é sinal que não foi a tempestade que o matou, mas sim ela, aquela maldita, que veio cumprir sua lenda e me roubar a única coisa que eu tenho na vida”.
- Maldita sejas tu, minha Mãe Yemanjá. Mas tu me paga, eu não saio daqui sem o meu marido, tu tens que me devolver ele como eu te entreguei, forte e sadio, não vim aqui para buscar um cadáver. Só saio daqui com ele e nada me fará desistir, nem mesmo a morte.
Janaína correu até a praia e, no meio daquela tempestade, avançou mar adentro. Possuída pela revolta, queria, se possível, ir até o fundo do mar buscar seu marido, não entregaria facilmente o sentido de sua vida, viera ali para lutar e ela estava apenas começando. Gritou para sua Mãe Yemanjá: - Se eu não o trai, se eu não menti, se ele me ama, qual a explicação para tudo isso? Não, minha Mãe Yemanjá, tu não vai fazer isso comigo, não vai mesmo.
Algumas pessoas ainda tentaram dissuadi-la, pedindo para que retornasse para casa e ficasse na espera de noticias. Ninguém se atrevia a enfrentar o mar. Na noite escura como um breu não se enxergava um palmo a frente do nariz, a não ser quando os raios explodiam sobre suas cabeças. Mas ela continuou firme, dali não arredaria o pé, não desistiria, era obstinada e sua Mãe Yemanjá sabia o quando ela era sincera em seu amor. Não nascera para perder, ainda mais se tratando de seu amado.
Sentada na areia, cochilou. Foi quando a tempestade aplacou, o vento parou e o mar doce veio beijar seus pés. Despertou assustada, sem saber que horas eram, mas, pela fome e pela dor que remoíam seu corpo, pressentiu que passava do meio-dia. Tinha que voltar para casa e saber se os homens haviam entrado no mar para procurá-lo. Estava pensando em ir até a capitania dos portos onde as grandes lanchas faziam o socorro, quando viu um jipe aproximar-se, eram os colegas de seu marido. Eles não precisaram falar nada, traziam a reboque o barco que levara o negro Roberto para o fundo do mar.
Aproximou-se e acariciou o barco, passando a mão no local onde em muitas noites de lua cheia os dois sentavam para admirar as estrelas e namorar. Constatou que o barco estava intacto, nenhum arranhão na pintura. “Se o barco está assim, é sinal que não foi a tempestade que o matou, mas sim ela, aquela maldita, que veio cumprir sua lenda e me roubar a única coisa que eu tenho na vida”.
- Maldita sejas tu, minha Mãe Yemanjá. Mas tu me paga, eu não saio daqui sem o meu marido, tu tens que me devolver ele como eu te entreguei, forte e sadio, não vim aqui para buscar um cadáver. Só saio daqui com ele e nada me fará desistir, nem mesmo a morte.
As amigas falaram até cansar e finalmente, quando todos partiram para as suas casas, ela sentou e chorou, vertendo todas as lágrimas do mundo, deixando vazar o desespero e a dor que a sufocavam.
“Chora, Janaína, chora que o mar vai te encantar. Chora, meu golfinho, chora que o mar vem te abençoar. Chora, Janaína, chora que o mar vem te beijar...” Assim cantou o poeta e assim caminham as filhas da mais doce das iabás, elas, as sereias de Abéokutá, a morada de Yemanjá.
À noite chegou e o vento frio que soprava do mar calou fundo naquele corpo mirrado, vestido com o fino morim que nada cobria. Ela não sentiu frio nem fome, apenas o vazio da alma que buscava compreender o inexplicável, o fim inexorável da vida, o que estava escrito, a lenda, o sentido da vida.
Na praia as pequenas gaivotas buscavam o alimento para seus filhinhos e retornavam para seus ninhos. Elas dividiam a praia com alguém que não tinha mais ninho, não tinha para quem retornar, a não ser para uma casa vazia e sem sentimentos. Não, ela não voltaria de braços vazios, permaneceria ali até o fim de seus dias. Sua Mãe Yemanjá não podia querer isso dela.
Não aguentando mais, tombou, e seu corpo encontrou como cama a areia e as águas de Yemanjá. Ali, ela, sua Mãe Yemanjá, apareceu e lhe falou: - Eu o levei, mas não como está escrito na lenda, mas sim atendendo um pedido dele que não queria mais viver. Não vim buscá-lo, simplesmente o recebi em meu reino de Abéokutá.
“Então foi assim que tudo se passou. Este infeliz não me perguntou como as coisas se passaram e me deixou sem uma explicação. Não, isso não vai ficar assim, não vou deixar como está, ele sequer me fez um filho e me abandona a seu bel-prazer”.
Levantou-se e, determinada, avançou mar adentro. Primeiro entoou com todas as forças de seus pulmões e com todo o amor do mundo o canto de seu Orixá e a seguir se prendeu a gritar a dijina de sua Mãe Yemanjá, nome que recebera de sua Mãe de Santo quando de sua iniciação. Sentindo-se com a força e o poder de seu Orixá, evocou seus cavalos marinhos. Sim, onde ele estivesse os cavalos e os golfinhos o encontrariam e trariam de volta, e foi como tudo aconteceu. O mar calmo se agitou, bramiu e, fustigado pelo vento, avançou sobre ela e a engoliu, arrastando-a para o fundo. Mas ela era Janaína, a filha de Yemanjá, portanto, não cederia a sua força. No último momento abriu a boca e soltou o grito, um som que só os golfinhos conhecem, e momentos depois viu-se cercada por seus cavalos que chegaram para socorrê-la, e ela, Janaína, montou e cavalgou sobre as ondas em busca de seu amor.
Na madrugada do dia seguinte, quando os pescadores iam entrar no mar, eles viram algo sair dele. Era Janaína de Yemanjá que, cavalgando seus cavalos, trazia na garupa o seu amado, negro Roberto de Ogum Adiolá, a sorrir na plenitude da felicidade.
Bem, toda a lenda tem sua exceção, inclusive a que conta que Ogum Adiolá amava uma Yemanjá que não queria seu amor, motivo pelo qual o mar o havia tragado. Mas esta Janaína queria seu homem e, com sua força e obstinação, não desistiu tão facilmente, lutara e, vitoriosa, trouxera de volta o homem que lhe daria uma barriga.
“Chora, Janaína, chora que o mar vai te encantar. Chora, meu golfinho, chora que o mar vem te abençoar. Chora, Janaína, chora que o mar vem te beijar...” Assim cantou o poeta e assim caminham as filhas da mais doce das iabás, elas, as sereias de Abéokutá, a morada de Yemanjá.
À noite chegou e o vento frio que soprava do mar calou fundo naquele corpo mirrado, vestido com o fino morim que nada cobria. Ela não sentiu frio nem fome, apenas o vazio da alma que buscava compreender o inexplicável, o fim inexorável da vida, o que estava escrito, a lenda, o sentido da vida.
Na praia as pequenas gaivotas buscavam o alimento para seus filhinhos e retornavam para seus ninhos. Elas dividiam a praia com alguém que não tinha mais ninho, não tinha para quem retornar, a não ser para uma casa vazia e sem sentimentos. Não, ela não voltaria de braços vazios, permaneceria ali até o fim de seus dias. Sua Mãe Yemanjá não podia querer isso dela.
Não aguentando mais, tombou, e seu corpo encontrou como cama a areia e as águas de Yemanjá. Ali, ela, sua Mãe Yemanjá, apareceu e lhe falou: - Eu o levei, mas não como está escrito na lenda, mas sim atendendo um pedido dele que não queria mais viver. Não vim buscá-lo, simplesmente o recebi em meu reino de Abéokutá.
“Então foi assim que tudo se passou. Este infeliz não me perguntou como as coisas se passaram e me deixou sem uma explicação. Não, isso não vai ficar assim, não vou deixar como está, ele sequer me fez um filho e me abandona a seu bel-prazer”.
Levantou-se e, determinada, avançou mar adentro. Primeiro entoou com todas as forças de seus pulmões e com todo o amor do mundo o canto de seu Orixá e a seguir se prendeu a gritar a dijina de sua Mãe Yemanjá, nome que recebera de sua Mãe de Santo quando de sua iniciação. Sentindo-se com a força e o poder de seu Orixá, evocou seus cavalos marinhos. Sim, onde ele estivesse os cavalos e os golfinhos o encontrariam e trariam de volta, e foi como tudo aconteceu. O mar calmo se agitou, bramiu e, fustigado pelo vento, avançou sobre ela e a engoliu, arrastando-a para o fundo. Mas ela era Janaína, a filha de Yemanjá, portanto, não cederia a sua força. No último momento abriu a boca e soltou o grito, um som que só os golfinhos conhecem, e momentos depois viu-se cercada por seus cavalos que chegaram para socorrê-la, e ela, Janaína, montou e cavalgou sobre as ondas em busca de seu amor.
Na madrugada do dia seguinte, quando os pescadores iam entrar no mar, eles viram algo sair dele. Era Janaína de Yemanjá que, cavalgando seus cavalos, trazia na garupa o seu amado, negro Roberto de Ogum Adiolá, a sorrir na plenitude da felicidade.
Bem, toda a lenda tem sua exceção, inclusive a que conta que Ogum Adiolá amava uma Yemanjá que não queria seu amor, motivo pelo qual o mar o havia tragado. Mas esta Janaína queria seu homem e, com sua força e obstinação, não desistiu tão facilmente, lutara e, vitoriosa, trouxera de volta o homem que lhe daria uma barriga.
Sim, esta Janaína seria conhecida por estar além da lenda. Sim, era ela, a Janaína, a filha de Yemanjá.
Para entrar em contato com pai Guilherme d'Bará ligue para o fone 53 84352242 ou pelo emailbuzionline@hotmail.com
Lindo relato!!! Salve os mistérios de Deus - salve a alta magia dos mestres e orixas
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