A relação entre o Carnaval e as religiões de matriz africana data de antes da década de 1960
Acabamos de sair do carnaval, as escolas de samba e os blocos de enredo tomaram as avenidas com milhares de foliões, por cinco dias de alegria e catarse em todo o país. De origem cristã, o Carnaval, cuja palavra vem do latim com o sentido de “adeus à carne”, mostrou-se também um solo fértil para práticas religiosas de origem afro. E não poderia ser diferente, tendo em vista que o Brasil tem a maior população de origem africana fora da África. Assim, nas celebrações públicas dessa festa popular, pode-se perceber a influência dessa relação na tradicional ala das baianas, que remete às mães de santo do candomblé, no som da bateria - com os ritmos ancestrais de tambores africanos e nas homenagens sempre presentes às mitologias das divindades de matriz afro em seus enredos.
A relação entre o Carnaval, em especial o carioca, e as religiões de matriz africana é antiga e data de muito antes da criação da ala das Baianas, no início dos anos 1960.
Esta ala, que compõe um grupo coreografado e destacado desfilando com fantasias idênticas, homenageia as mães-de-santo vindas da Bahia, berço do candomblé, religião que também se firma no Rio de Janeiro em sua forma contemporânea mais conhecida desde a primeira metade do século XIX.
As trocas culturais ocorridas por vários séculos durante o período colonial brasileiro contribuíram para a formação de uma cultura híbrida e bastante rica do país, e o Carnaval, por sua vez, apresenta esta diversidade em seus enredos.
As religiões afro-brasileiras constituem um fenômeno relativamente recente na história religiosa do Brasil. O Candomblé, a mais tradicional e africana dessas religiões, se originou no Nordeste. Nasceu na Bahia e tem sido sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em geral, como o nosso batuque aqui no Rio Grande Do Sul. Com raízes africanas, a Umbanda também se popularizou entre os brasileiros. E o Carnaval tem um importante papel na preservação das tradições culturais dos diferentes grupos.
O Carnaval brasileiro também está diretamente ligado às questões étnico-raciais, partindo do princípio que foi o povo negro, de origem africana, que trouxe esta manifestação cultural para o Brasil, contagiando também brancos europeus.
Não podemos esquecer que, por muitas vezes, as Escolas de Samba serviram como refúgios para praticantes das religiões de matrizes africanas. Podemos perceber esta ligação nos sambas enredos, na participação dos movimentos negros nas escolas, além das representações e cultos aos orixás em alguns barracões. Sem contar que Xangô foi o ponto principal do enredo da Acadêmicos do Salgueiro este ano.
Quanto à influência dos batuques africanos nas baterias de escola de samba, percebemos que, o ritmo das baterias das escolas de samba são oriundos dos batuques africanos, dos ritmos dos atabaques dos ogans dos terreiros e das músicas improvisadas das senzalas.
A batucada é acompanhada por instrumento de percussão, oriundos da África e de seus ritmos religiosos do candomblé, sendo que muitos instrumentos eram improvisados com utensílios domésticos, como o prato, frigideira e faca, até hoje usados nas baterias das escolas de samba.
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