O singnificado do sangue
“... o conteúdo mais precioso de um Ilê é o axé. É a força que assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o devir. sem axé a existência estaria paralisada, desprovida de toda a possibilidade de realização. é o princípio que torna possível o processo vital.”
juana elbein dos santos
sacrifícios_
sacrifício não é assassinato, relacionado que está ligado à rituais sagrados, visando, no batuque, ampliar, acumular e distribuir a força vital e sagrada que é o axé. boa parte das religiões utilizava o sacrifício em seus rituais.
entre os cristãos, por exemplo, a extinção do sacrifício (em termos reais) justifica-se pela morte de jesus cristo; que teria morrido para salvar a humanidade no mais importante sacrifício que o mundo assistiu. ocorre que jesus morreu pelos cristãos, e não pelo africanismo, isso significa, na realidade, que os ritos processados em outra doutrina religiosa não fazem nenhum sentido para nossos orixás; da mesma forma que os rituais de africanos fogem à compreensão da igreja católica.
Em outras palavras, o batuque só se explica pelo batuque, não adiantando recorrer á bíblia para explicar e muito menos para condenar as práticas da religião dos orixás.
o sangue é de importância vital para os orixás, pois está ligado à concepção, à fertilidade, ao nascimento e a todas as etapas da vida. sem sangue não há axé. ninguém nasce sem sangue. quando deixar de haver sacrifícios, o batuque deixará de existir.
Não se derrama do sangue dos animais por maldade, por crueldade, muito menos para fazer mal a alguém. o sacrificíco é a condição para que a vida continue, e não apenas no batuque. todos se alimentam, seja de carne ou de vegetal, e um boi pode ser comido em bifes. ou seja, em partes e depois de morto; uma alface ao ser desconectada de sua raiz, também é morta. então, por que não se pode atribuir um significado religioso a um ato essencial para a sobrevivência humana?
o ritual macrabro não está nos Ilês, e sim nos matadouros, onde os animais são submetidos a inúmeras crueldades e morrem com muito sofrimento. imaginem um animal ainda vivo tendo sua pele totalmente arrancada: isso é um exemplo do que ocorre nos matadouros. é por isso que a carne que será consumida pelo iniciado deve ser sacralizada por meio de rituais específicos; a carne de um animal que morreu com sofrimento não faz bem a ninguém.
é um absurdo acusar o batuque de realizar sacrifícios humanos como tem feito algumas igrejas. o batuque não é uma religião hipócrita e assume o que faz. são sacrificados, sim, bois, bodes, galinhas, patos e muitos outros animais, que depois servem de alimentos à comunidade, mas nunca seres humanos, pois o orixá vive no homem e atravéz do homem.
lembren-se que jesus foi condenado à morte por pessoas que viriam a santificá-lo mais tarde, fazendo o sinal da cruz, adorando sua imagem ensanguentada. pois que fique bem claro: não somos contra o homem jesus, mas contra os homens que mataram jesus. nós não matamos nossos orixás, nós os amamos com todos os seus defeitos e qualidades.
sangue_ as três fontes de axé
para o batuque tudo que a natureza produz é sangue, pois o que define o sangue é a força que detém, ou seja, o axé. o sacrifício requer a utilização de varios tipos de sangue, vindo das mais variadas fontes da natureza, atribuindo vida e sentido ao orixá, aos homens e à própria existência.
sangue vermelho
o sangue divide-se em três categorias: o sangue vermelho, o preto eo branco. Os elementos detentores desse axé são encontrados nos reinos animal, vegetal e mineral, configurando a parte material, visível e palpável da força vital.
o sangue vermelho do reino animal é representado pelo fluxo menstrual, pelo sangue dos animais e pelo sangue humano. portanto todas as pessoas são portadoras de axé. no reino vegetal, o sangue vermelho é representado pelo azeite-de-dendê, o òsún (semente) e o mel extraídos da flor, são os melhores exemplos. os metais como bronze e o cobre são portadores do sangue vermelho proveniente do reino mineral.
o sangue vermelho está mais diretamente relacionado às coisas quentes, ao movimento e ao fogo, razão pela qual os orixás que exigem uma quantidade maior desses elementos, dominam exatamente esse aspecto da natureza, como Bará, xangô e iansã.
sangue preto
no reino animal o sangue preto é encontrado principalmente nas cinzas de animais sacrificados. sendo a cor verde variação da cor preta, assim como o azul, o sumo das folhas, o pó azul chamdo wàji e extraído das árvores, são exemplos de sangue preto no reino vegetal. já o reino mineral, encontramos o carvão e o ferro.
a esses elementos relacionam-se mais diretamente os Orixás da terra, como Ogum, Odé, Otim, Ossanha, Xapanã e muitos outros> Isso não quer dizer que Deuses ligados a outros elementos não os utilizem.
sangue branco
o sêmem, a saliva, o halito, as secreções e o plasma, são considerados os portadores de sangue branco no reino animal. o caracol sacrificado a oxalá é um bom exemplo de animal de sangue branco. no reino vegetal, está o sumo das plantas leitosas, e das bebidas alcoólicas extraídas das palmeiras e de outros vegetais. também está no ìyèrosùn ( pó utilizado pelos sacerdotes no opelê ifá) e no orí ( banha vegetal). no reino mineral temos o sal e o efun ( uma espécie de giz), a prata e o chumbo.
todos esses elementos são portadores de axé e combinados reforçam, ampliam e restabelecem a relação entre os homens e os deuses. o axé é uma força vital que pode ser acumulada e aumentada; e o sacrifício, com a utilização das mais variadas fontes de axé, provenientes de todos os reinos da natureza, é que fortalece o poder do orixá e de todas as casas de nação africana.
fonte: revista orixás
( ano 1,n°5; pg 24/26)
Para entrar em contato com pai Guilherme d'Bará ligue para o fone 53 84352242 ou pelo email buzionline@hotmail.com
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